DANIEL FILIPE
[N. Ilha da Boavista,Cabo Verde, 1-2-1925 — m. Cabo Verde, 6-4-1964]
DANIEL Damásio Ascenção
Poeta. Veio com a família para Portugal ainda criança, concluindo aqui o curso dos liceus. Exerceu várias profissões, incluindo a de jornalista. Funcionário da extinta Agência-Geral do Ultramar dirigiu então o programa literário radiofónico, na Emissora Nacional, intitulado Voz do Império. Membro da direcção dos cadernos Notícias do Bloqueio e colaborador da revista Távola Redonda, a sua poesia realizou em breve espaço de tempo uma viragem de noventa graus.
Considerado inicialmente «poeta formalista e passadista», por António José Saraiva e Óscar Lopes, foi por estes mesmos filiado numa poesia combativa e comprometida, mercê de uma transformação temática de profundidade. Efectivamente, a sua produção poética ganhou uma actualidade datada, é certo, mas acutilante e repleta de potenciais propósitos de realismo existencial, disciplinado por um circunstancialismo social que se assume nas averiguações da
História contemporânea.A sua problemática, da abstracção das tensões líricas tradicionais, intimistas e às vezes bastante devedoras do exotismo tropicalista, ergue-se na experiência do desconforto e da esperança colectivas, projectando-se numa acção ideal de amor humanístico, assim protestante contra o meio ambiente mesquinho e a prática quotidiana que o justifica, autoriza e perpetua.
Poeta assimilado nos anos sessenta pela geração contestatária ao regime fascista, a sua poesia possui todavia uma retórica de justificação política situada no espaço e no tempo, tentativa de continuar o projecto estético lançado pelos pioneiros do neo-realismo. Usou o pseudónimo Raymundo Soares em A Ilha e a Solidão (1957), que recebeu o prémio Camilo Pessanha, em 1956, atribuído pela Agência-Geral do Ultramar.
Obras principais:
Poesia - Missiva, 1946; Marinheiro em Terra, 1949; O Viageiro Solitário, 1951; Recado para a Amiga Distante, 1956; A Ilha e Solidão, 1957; A Invenção do Amor, 1960; Discurso sobre a Cidade, 1961; Pátria Lugar de Exílio, V Romance - O Manuscrito na Garrafa, 1960.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses