Inda bem que me enganaste
E não voltaste!
Entanto, Devo dizer-te:
Porque dizer a verdade
É conversarmos com Deus, —
Quando abri a tua carta,
Acreditei que viesses...
Primeiramente,
Um mau-estar delicioso
Mordeu-me todo:
Mordedura violenta,
Límpida, quase imoral.
Depois,
Entornei nos meus cabelos
Perfumes
De sensualíssima casta,
—E a febre de me alindar
Mais e mais me dominava...
Os meus ombros florentinos
Cobertos de pedraria,
Deixavam —
Escorrer pelo meu corpo
Certa luminosidade fria...
Nas minhas mãos de cambraia
As esmeraldas cintilavam
E as pérolas
Nos meus braços
Murmuravam...
Desmanchado, o meu cabelo,
Em ondas largas, caía,
Na minha fronte
Ligeiramente sombria.
Pálido sempre; dir-se-ia
Que a palidez aumentava
A minha grande beleza!
Na minha boca ondulava
Um sorriso de tristeza
A noite vinha, tombando.
Por fim,
Muito a custo,
— Como que já pressentindo
A desilusão final,
Aproximei o meu vulto
Daquele formoso espelho
De marfim e de cristal.
Um cadáver enfeitado —
E não
Aquele corpo de jovem,
Harmonioso, delgado,
Que tantas vezes beijaste!
Mais nostálgico, mais triste,
Fiquei-me a chorar
E a cismar, pálido, absorto
Na sombra
Dessa ilusão que perdi:
Inda bem que me enganaste
E não voltaste!
Nem venhas, meu amor,
- Eu já morri.
In Adolescente