Na margem de um ribeiro, que fendia
com líquido cristal o verde prado,
o triste pastor Liso debruçado
sobre o tronco de um freixo assi dizia:

«Ah, Natércia cruel, quem te desvia
esse cuidado teu do meu cuidado?
Se tanto hei-de penar desenganado,
enganado de ti viver queria.

Que foi daquela fé que tu me deste?
Daquele puro amor que me mostraste?
Quem tudo trocar pôde tão asinha?

Quando esses olhos teus noutro puseste,
como te não lembrou que me juraste
por toda a sua luz que eras só minha?»

Luís Vaz de Camões
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