ESCREVO À TUA memória, amor, sem teres morrido,
E à memória desse amor, em nós nunca sabido.
Éramos rapazes, tu eras mais novo e eu o maior.
Tivéssemos sabido amar e ter-nos-íamos amado.
Tivéssemos descoberto o caminho do amor e teríamos achado
Seus prazeres, mas, jovens então, era de irmãos nosso amor.
Contudo, se te encontrasse hoje, talvez tudo fosse igual.
Tenho vergonha agora de ser o que não sabia outrora.
Talvez fosse melhor tal como foi — pois a chama virginal
Do amor não levou nossos sentidos ao fogo pleno e pior.
Lembro-te muito e a alma suspira tristemente em mim.
Recordas-me também algumas vezes e sentes algo assim?
Hoje sei que teria sido melhor termo-nos amado,
Hoje sei isso, mas não quero pensar demasiado.
Eras atraente e belo; eu não: apenas amava.
Cava-se mais em mim a marca desta doença antiga
Que só os gregos, porque eram belos, tornaram bela.