No carro de marfim sentada a Lua
Da antiga mãe das sombras triunfava,
Quando a furtivos gostos me guiava
Amor, a quem me entrega a sorte crua:
«Hoje» (me disse o nume) «há-de ser tua
A ninfa mais gentil que o Tejo Lava;
Não deram tanta glória a minha aljava
Nem Vénus a carpir, nem Tétis nua:
«Ali dorme o teu bem… vê, que momento…!»
Olho, corro anelante, aos pés lhe caio,
Mas tentando abraçá-la, abraço o vento;
Meu peito arqueja em súbito desmaio;
Eis que soa esta voz de horrendo acento:
«Profano! Expia o crime, e teme o raio!»