O piano noutro andar
Tem sempre um som magoado…
Sem querer faz-me lembrar,
Com saudade, o passado,
Não um passado que houvesse,
Pelo piano repetido,
Mas um que só entristece
Sem que tivesse existido.
É um passado absoluto
Abstracto, do toda a gente.
Penso ou cismo? Sonho ou escuto?
Sinto ou alguém em mim sente?
Porque é que sem nexo ou jeito,
Fala este som casual
Ao coração imperfeito,
À sensação desigual?
Não sei. Mas surge do fundo
Do meu ser desconhecido
Um tédio de haver o mundo,
Um horror a ter vivido.