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Uma só prece faço, mas não a Deus, Que não sei onde está, se me conhece. À memória da vida me encomendo, Uns dizem que fatal, outros criada. Quando o Destino não tem, nem Deus teria, Outro poder que não lhes fosse dado. Faço pois uma prece, e que ma oiça A sombra que serei, resumo e resto De quanto homem fez, foi e perdeu. Num gesto já não meu, só de abandono, O braço que hoje prende há-de cair. Renasça então na palma que arrefece A lembrança das rosas e dos seios. Outra herança não fica que mereça A partilha de bens na eternidade. O seio é quanto basta, a rosa sobra Por memória da vida terminada.
In Os Poemas Possíveis
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