Brincava a criança
Com um carro de bois.
Sentiu-se brincando
E disse, Eu sou dois!
Há um a brincar
E há outro a saber,
Um vê-me a brincar
E o outro vê-me a ver.
Estou por trás de mim
Mas se volto a cabeça
Não era o que eu qu’ria
A volta não’ é essa...
O outro menino
Não tem pés nem mãos,
Nem é pequenino
Não tem mãe ou irmãos.
E brinca comigo
Por trás de onde eu estou
Mas se volto a cabeça
Já não sei o que sou.
E o tal que eu cá tenho
E sente comigo,
Nem pai, nem padrinho,
Nem corpo ou amigo,
Tem alma cá dentro
‘Stá a ver-me sem ver
E o carro de bois
Começa a parecer
Uma cousa diferente
E ao pé de uma casa,
E fico a pensar
Se eu tivesse outra vez
O menino de lá,
O carro de bois
E o carro de bois
Depois já parece
Só o brinquedo.