Se grão glória me vem de olhar-te,
é pena desigual deixar de ver-te.
Se presumo com obras merecer-te,
grão pago de engano é desejar-te.

Se quero, por quem és, louvar-te,
sei certo por quem sou ofender-te.
Se mal me quero a mi por bem querer-te,
que prémio quero mais que só amar-te?

Porque amor tão raso sempre fere?
ó humano tesouro, doce glória,
que quer mais a alma que te serve?

Escrita estarás em minha memória;
e a alma viverá que por ti morre;
que, ao fim da batalha, é a vitória.

Luís Vaz de Camões
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