Fermosos olhos, quem ver-vos pretende
a vista dera em preço, se vos vira,
que inda por perder-vos a sentira,
a perda de não ver-vos não se entende.
A graça dessa luz não na compreende
quem, ao sol, a vós seus olhos vira,
que o cego Amor, que cego deles tira,
com vossos próprios raios a defende.
Não pode a vista humana conhecer
qual seja a vossa cor, que a luz forçosa
não consente mostrar tanta beleza.
Se eu, que em vendo-a ceguei, pude inda ver,
Uma cor vi, porém, cor tão fermosa
Que me não pareceu da natureza.