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Ah, menina tonta de tanto sonhar, Não busques a via do grave pensar. O homem que pensa, p’ra isso dotado, É o que mais sofre, amaldiçoado. Pensar é loucura a um só dirigida, Doença empolgante, triste, indefinida; Empolgante como, em fúria, a tormenta Que em perigo sacode a força tremenda; Empolgante o génio do qual é sabido Que a morte não poupa o golpe temido; Do corpo e da alma o destruidor, O pensar é escravo, tirano e senhor. Deixa o pensar aos loucos e goza esta vida Sem dúvida ou luta na mente sofrida; Tenta agradar só e a brincar prender, Ama e não confies ou terás de sofrer; Deleita-te com sedas, fúteis ninharias, Fingido o choro, vivendo alegrias; Com o coração pensa, com a mente planeia; Em sonho (irreal) teu olhar devaneia; Tua forma a atrair, tua voz a prender; Excede-te na arte de só maldizer; A mulheres como a homens tenta agradar... Sucesso terás... Possa eu vivo estar!
1904
In Poesia
, Assírio & Alvim , edição e tradução de Luisa Freire, 1999
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