Quando descansareis, olhos cansados,
pois já não vedes quem vos dava vida?
Ou quando vereis fim e despedida,
a tantas desventuras e cuidados?

Ou quando quererão meus duros Fados
erguer minha esperança tão caída?
Ou quando, se de todo é já perdida,
alcançar podereis meus bens passados?

Bem sei que hei-de morrer nesta saudade,
e que meu esperar é todo vento,
pois nada espero ao que desejo.

E pois tão clara vejo esta verdade,
bem pode vir a mim todo o tormento,
que não me há-de espantar, pois sempre o vejo.

Luís Vaz de Camões
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