O que a morte vem desposar
É o que é bom e belo da vida;
E a dor do gume ao passar
Não é menor que a já conhecida;
Tudo passa e corre no afundar
Em que a vida deixa a própria vida.
Contudo esperamos que este morrer
Seja ilusão só, a enganar;
Que o rio que ora passa a correr
Encontre, inda que longe, um mar;
Que para além do frágil saber
Uma vida maior vá guardar
Para sempre, o que parece findar
E partir com o presente momento
E que talvez, para contrariar
O nosso mais subtil pensamento,
Conteúdo e forma se vão juntar
E viver, sem tempo, um Eternamente.