Seguia aquele fogo, que o guiava,
Leandro, contra o mar e contra o vento:
as forças lhe faltavam já e o alento;
Amor lhas refazia e renovava.

Despois que viu que a alma lhe faltava,
não esmorece; mas, no pensamento,
- que a língua já não pode – seu intento
ao mar, que lho cumprisse, encomendava.

«Ó mar – dizia o moço só consigo -,
já te não peço a vida; só queria
que a de Hero me salves; não me veja...

Este meu corpo morto, lá o desvia
daquela torre. Sê-me nisto amigo,
pois no meu maior bem me houveste enveja!»

Luís Vaz de Camões
[SEGUIA AQUELE FOGO QUE O GUIAVA]
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