Quanto tempo, olhos meus, com tal lamento
vos hei-de ver tão tristes e agravados?
Não bastam meus suspiros inflamados,
que sempre em mi renovam seu tormento?
Não basta consentir meu pensamento
em mágoas, em tristezas e em cuidados,
senão que haveis de andar tão maltratados
que lágrimas tenhais por mantimento?
Não sei porque tomais esta vingança,
mostrando-vos na ausência tão saudosos,
se sabeis quanto pode ũa esperança.
Olhos, não agraveis outros fermosos,
tornando um puro amor em esquivança,
pois ficais, por esquivos, desdenhosos.