Queima esse livro, carrasco,
Queima-o todo sem piedade,
Põe na fogueira o apóstata
Que veio roubar a verdade
«Queima toda a sua casa,
Mata à fome a descendência,
Separa amigos, divide-os,
Aos seguidores, inclemência.
«Seus livros, obras, poemas
Lança ao fogo, ao esquecimento!
Que deles só fiquem cinzas.
Algo mais neste momento?»
— «A alguns que estão a assistir,
De lágrimas se enche o olhar.»
— «O fogo será seu fim
E vão lhes será chorar.»
— «Tudo acabado, senhor.»
— «Algo deles lá ficou?»
— «Cinzas» — «Deita tudo ao vento;
Inda algo deles restou?»
— «Senhor, ainda persistem
Os seus nomes como honestos».
— «Não te rales; vão esquecer
Como seu sangue e seus restos.»
«Nada já resta». — «Senhor,
Algo não posso afastar:
Nosso nome será sempre
Maldição a recordar.»
— «Também seremos esquecidos
Logo que acabem, um dia.
Então, que resta?» — «Senhor,
O nome da Tirania.»
— «Esse também passará.»
— «Mas do que estamos fazendo
— Do mundo mau fica a Causa.»
— «O que dizes não entendo.»
— «Senhor, penso que é inútil
Que tudo seja esmagado.
Nome de Deus sempre fica
P'ra depois ser odiado.»