Onde porei meus olhos que não veja
a causa donde nace meu tormento?
Ou a que parte irei co pensamento
que, para descansar, parte me seja?

Engana-se quem busca ou quem deseja
em vão a mor firmeza no contento;
que todo seu prazer é névoa ao vento,
onde sempre o bem falta e o mal sobeja.

Anda minha alma cega, anda enganada.
A luz não busco; nem me desengano,
nem curo de razão. Busco o desejo.

Após um não sei quê, após um nada,
onde é certo o perigo e certo o dano;
que quanto mais me chego, menos vejo.

 

Luís Vaz de Camões
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