Nunca os vi nem lhes falei
E eles me têm guiado
Segundo a forma e a lei
Do que, inda que conhecido,
Tem que ficar ignorado.
Nunca li o livro ocluso
Nem vi o túmulo aberto,
Mas, em meu claustro recluso,
Vendo o céu só pela luz,
Senti a verdade perto.
Não foi o Mestre incorrupto
Nem O que foi exumado
Que me fez negar o fruto
Que guarda em seus quatro gomos
O segredo do pecado.
Mãos do meu Anjo da Guarda,
Que bem guiais, como dois,
O meu ser que teme e tarda,
Postas firmes nos meus ombros
Sem que eu saiba de quem sois!
Vou pela noite infiel
Sentindo a aurora raiar
Por trás do alguém que me impele;
Mas já adiante de mim
Vejo o dia a começar.