Foste sempre uma bodega —
Bêbado, porco, ferida
Que nem a ser chaga chega...
Mas bodega é toda a vida.

Anda tudo sujo e grosso
Sob frases simples ou raras
E é chaga este corpo nosso
A que a saúde põe saras.

Morreste? Que é isso? Nada!
Morrem as fés e os sóis.
Que é a vida que nos é dada?
Taberna à beira da, ‘strada...
(Quanta vez bebemos dois!)

31 - 3 - 1934

In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006
Fernando Pessoa
« Voltar