Oh, quem dizer pudesse quanto sente
ou se não magoasse do que entende!
Entenda a dor do mal quem o entende;
conheça o bem quem dele se contente.
Vida de pouco gosto e descontente
pretende quem saber muito pretende,
que com obrigações caras se vende
o muito entendimento comummente.
Não há merecimento que mereça,
nem culpa que ninguém faça culpado:
a ventura é nas cousas geralmente
descostume tão cru desordenado
que, sem que o bem falte e o mal creça,
quem sente menos é quem menos sente.