Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minh’ alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente á força de sonhar…

Ma s a vitória fulva esvai-se logo…
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo…
— Onde existo que não existo em mim?


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Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d’amor sem bocas esmagadas —
Tudo outro espasmo que princípio ou fim…


Paris, 3 de Maio de 1913
Mário de Sá-Carneiro
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