Ar, que de meus suspiros vejo cheio;
terra, cansada já com meu tormento;
água, que com mil lágrimas sustento;
fogo, que mais acendo no meu seio:

em paz estais em mim; e assi o creio,
sem esse ser o vosso próprio intento,
pois, em dor onde falta o sofrimento,
a vida se sustém por vosso meio.

Ai imiga Fortuna! Ai vingativo
Amor! A que discursos por vós venho,
sem nunca vos mover com minha mágoa!

Se me quereis matar, para que vivo?
E como vivo, se contrários tenho
fogo, Fortuna, Amor, ar, terra e água?

Luís Vaz de Camões
[AR QUE DE MEUS SUSPIROS VEJO CHEIO;]
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