|
Obedecem-me agora muito menos agora as palavras. A propósito de nada resmungam, não fazem caso do que lhes digo, não respeitam a minha idade. Provavelmente fartaram-se da rédea, não me perdoam a mão rigorosa, a indiferença pelo fogo-de-artifício. Eu gosto delas, nunca tive outra paixão, e elas durante muitos anos também gostaram de mim: dançavam à minha roda quando as encontrava. Com elas fazia o lume, sustentava os meus dias, mas agora estão ariscas, escapam-se por entre as mãos, arreganham os dentes se tento retê-las. Ou será que já só procuro as mais encabritadas?
In O Sal da Língua
|