MOTE ALHEIO
De pequena tomei Amor,
porque o não entendi;
agora, que o conheci,
mata-me com desfavor.
VOLTAS PRÓPRIAS
Vi-o moço e pequenino,
e a mesma idade ensina
que se incline ũa minina
às mostras de um minino.
Ouvi-lhe chamar Amor,
pelo nome me venci;
nunca tal engano vi
nem tamanho desamor.
Creceu-me de dia em dia
com a idade a afeição,
porque amor de criação
n' alma e na vida se cria.
Criou-se em mim este amor
e senhoreou-se de mim.
Agora, que o conheci,
mata-me com desfavor.
As flores me torna abrolhos,
a morte me determina
quem eu trouxe de minina
nas mininas dos meus olhos.
Desta mágoa e desta dor
tenho sabido enfim;
por amor me perco a mim,
por quem de mim perde o amor.
Parece ser caso estranho
o que Amor em mim ordena:
que em idade tão pequena
haja tormento tamanho.
Sejam milagres de Amor,
hei-os de sofrer assi,
até que haja dó de mim
quem entender esta dor.