A perfeição, a graça, o doce jeito,
A Primavera cheia de frescura
que sempre em vós florece, a que a ventura
e a razão entregaram este peito;

aquele cristalino e puro aspeito,
que em si compreende toda a fermosura,
o resplandor dos olhos e a brandura,
donde Amor a ninguém quis ter respeito;

s'isto, que em vós se vê, ver desejais,
como digno de ver-se claramente.
por muito que de Amor vos isentais,

traduzido o vereis tão fielmente
no meio deste espírito onde estais
que, vendo-vos, sintais o que ele sente.

Luís Vaz de Camões
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