O dia opaco de luz
Ao ‘scurecer, se traduz
Para uma quietação morna
— V’rão quentemente outonal —
Auréola que contorna
O negro do pinheiral
E um laranjal sem calma entorna
Em torno a meu vago mal.
Nesta hora peso-me, absorto;
Sinto-me a alma de um morto;
Não sei de que serve ter
A insciência de viver.
O perfil-nudez dos montes
É colorido de calma
E essa trégua, esse esquecer
Que aureolada de luz os horizontes
É-me exterior à alma.
É neste tépido □ de que gosta
Parte de mim que me não sinto minha
Que eu sei que a Natureza encosta
A testa à mão, e sonha, já vizinha
De se sentir inútil e cansada,
Consciente de mistério sem cruz
Cada traço de estrada entristece-se-me de luz.
Não sei o que, que desconfiança cega
No porvir, desesperança espiritual
Como um adeus ao morto sol me chega
À alma desigual
De ser desejo e mágoa
Do que sente ser bem, e conhece ser mal.
Morno esquecer,
Porque não me esqueço eu no teu mover?
Que confiado dizer
Ainda poderia supor-me a ter?
Salve-o eu agora, quando a luz é um beijo
Quente e a arrefecer
Como o último beijo de prazer.
Escureceu: acinzentou-se de longe
O horizonte parado
Será a alma parda ou tom de monge...
Meu corpo fatigado
Meu corpo fatigado da alma
Quantos poros terei para a calma!