Que doudo pensamento é o que sigo?
Após que vão cuidado vou correndo?
Sem ventura de mi, que não me entendo;
nem o que calo sei, nem o que digo...

Pelejo com quem trata paz comigo;
de quem guerra me faz não me defendo.
De falsas esperanças que pretendo?
Quem do meu próprio mal me faz amigo?

Porque, se naci livre, me cativo?
E pois o quero ser, como não quero?
Porque me engano mais com desenganos?


Se já desesperei, que mais espero?
E, se inda espero mais, como não vivo
esperando algum bem de tantos danos?

 

Luís Vaz de Camões
[QUE DOUDO PENSAMENTO É O QUE SIGO?]
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