Todos querem esquecer-se! Todos querem esquecer-se!
E vêm pálidos lá de fora do caos das pedras e das nuvens
dançar na pista a alegria de durar
— enquanto a orquestra ri mais alto em «fox-trots»...
Todos querem esquecer-se! Todos querem esquecer-se!
E mostram com volúpia os olhos vazios
onde a música adiou para amanhã
o boiar do sofrimento em pântanos de cinzas.
Todos querem esquecer-se! Todos querem esquecer-se!
Sim. Todos! Todos!
Até tu que dependuraste o suicídio no bengaleiro.
E tu que deixaste à porta o desejo da tua mulher moribunda
E tu que andas a dançar com os grilos da rapariga violada;
no sótão!
E tu! E tu! E tu!
Todos querem esquecer-se! Todos querem esquecer-se!
Só eu não.
Só eu vim para me lembrar
dum crime qualquer... que não sei qual é
e cometi não sei onde, nem quando,
ou talvez não cometesse...
(... mas porque é que esta música me arranha o coração
num remorso de lágrimas de areia
à procura de olhos?)