Fermoso Tejo meu, quão diferente
te vejo e vi, me vês agora e viste:
turvo te vejo a ti, tu a mi triste;
claro te vi eu já, tu a mi contente.

A ti foi-te trocando a grossa enchente,
a quem teu largo campo não resiste;
a mi trocou-me a vista, em que consiste
meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes,
sejamo-lo no bem. Ah, quem me dera
que fôssemos em tudo semelhantes!

Lá virá então a fresca primavera:
tu tornarás a ser quem eras dantes,
eu não sei se serei quem dantes era.

Luís Vaz de Camões
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