Como louvarei eu, Serafim santo,
tanta humildade, tanta penitência,
castidade, e pobreza, e paciência,
com este meu inculto e rudo canto?

Argumento que às Musas pões espanto,
que faz muda a grandíloqua eloquência.
Ó imagem, que a Divina Providência
de si, viva, em vós fez para bem tanto!

Fostes de santos uma rara mina;
almas de mil a mil ao Céu mandastes
do mundo que, perdido, reformastes.

E não roubáveis só com a doutrina
as vontades mortais, mas a divina,
pois os seus rubis cinco lhe roubastes.

Luís Vaz de Camões
[COMO LOUVAREI EU SERAFIM SANTO]
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