Essa mulher sentada de ribeiro de pavia nas maçãs salientes risco ao meio e ancas arqueadas (das pernas nada digo pois sou púdico e além disso há a mesa de permeio essa mulher durante tantos anos perseguida e só muito raras vezes conseguida no mínimo desenho do pintor alentejano finalmente perdida como tudo com a vida essa mulher amendoada damas de cabelo louro (oxigenado?) e de dois olhos possivelmente obtidos a partir desse lápis-lazúli ainda não há muito visto mesmo mais que entrevisto em dois botões de punho que o hernâni me deixou ao voltar para o chile entre compreensivos conviventes versos sobre a mesa do meu quarto de solteiro e amiúde solitário da casa do brasil onde em madrid envelheci um ano esse lápis-lazúli que eu esquecera em roma numa mesa de oratório e tão bem conhecia do antónio nobre onde me conhecera não menos que em courelas do guerreiro ou do costa alemão (já não sei qual dos dois) concretamente se chamava silicato complexo de alumínio e sódio (que forma mais complexa se utiliza — lembro-me — pensava — para nomear uma só pedra embora rara baça sonhadoramente azul que já de si se chama de maneira complicada) essa mulher sentada jamais pode conhecer quem envelhece ao fim do corredor dos dias e acaba de passar ao lado de umas árvores moldadas despenteadas pelo vento sob a macia abóbada do lusco-fusco num carro porventura expressamente encarregado de difundir esse quarteto salvo erro número dois de haydn entre as íntimas ervas dos velados campos onde perdeu coisas concretas como a sua juventude um búzio um rancho de mulheres ou o varejo da azeitona alguns cabelos uma chave ou uma rima original Raios a partam e depois de todos estes digressivos versos essa mulher na mesma ali sentada e assentada sozinha à minha espera à espera de um sentido para a vida à espera de um marido à espera do natal
In Transporte no Tempo
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