Tanto se foram, Ninfa, costumando
meus olhos a chorar tua dureza,
que vão passando já por natureza
o que por acidente iam passando.

No que ao sono se deve estou velando,
e venho a velar só minha tristeza;
o choro não abranda esta aspereza,
e meus olhos estão sempre chorando.

Assi, de dor em dor, de mágoa em mágoa,
consumindo-se vão inutilmente,
e esta vida também vão consumindo.

Sobre o fogo de Amor, inútil água;
pois eu em choro estou continuamente
e do que vou chorando te vás rindo.

Luís Vaz de Camões
[TANTO SE FORAM NINFA COSTUMANDO]
« Voltar