|
Tão abstracta é a ideia do teu ser Que me vem de te olhar, que, ao entreter Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, E nada fica no meu olhar, e dista Teu corpo do meu ver tão longemente, E a ideia do teu ser fica tão rente Ao meu pensar olhar-te; e ao saber-me Sabendo que tu és, que, só por ter-me Consciente de ti, nem a mim sinto. E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto à ilusão da sensação, e sonho Não te vendo, nem vendo, nem sabendo Que te vejo, ou sequer que sou, risonho Do interior crepúsculo tristonho Em que me sonho o que me sinto sendo.
Dezembro de 1911
In Poesia 1902-1917
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
|