Tocai, sinos, ressoai sem parar!
P’lo vago sentido, talvez que acordais —
A minha infância faz recordar.
Tocai, sinos, tocai! Vossa alma é lágrima.
Que importa? Minha alegria infantil —
Já não a podeis, de novo, chamar.
Tocai, sinos, vibrai vossa canção!
Vós me lembrais uma qualquer ventura
(Talvez aquela que nunca senti),
O que foi passado e o que não dura,
O que não sendo, parece alegria.
Algo de triste que me faz sofrer
Sinto ao escutar vossa melodia.
Cantai, cantai o que foi belo um dia —
Já não mo podeis, de novo trazer.
Embora tocando uma só canção,
Gritai-a forte, loucamente, ó sinos!
Tocai o som que rasga o coração
Dizendo o que não sei, mas inda tocai
De cá para lá, até que a dor da alma
Se acalma, de tanto ouvir, no coração.
Na voz sem palavras que é vosso clamor
Tocai, sinos loucos, tocai fortemente!
Tendes algo de alma que ficou sozinha;
Trazeis tristeza, da dúvida a dor,
Triste sensação do que não se entende..,
E minha infância que chorais assim?
Era inconsciente; agora, demente.
Tocai, sinos! Vossa tristeza que fere
Contém um soluço como íntimo som.
Coisas imensas eu tenho em mim.
Tocai mais! Eu mergulho no vosso tom.
Tudo no mundo tem limite ou fim.
Continuai, livres e desesperados!
Não podeis falar ao meu sofrimento
Bem alto, de céus e coisas aladas?
Falar, sim; mas salvo a dor e o tormento
Nada mais podeis trazer para mim.
Tocai, sinos loucos, fundo e abertamente
Qualquer que seja a dor do vosso cantar —
Que importa? Vida e morte um sono somente
Repleto de sonhos de atormentar.
Tudo é irreal e nós cegos somos.
Tocai a canção! Só quero é chorar
Por tudo o que a vida pudesse ser.
Tudo o que soa ou ressoa na mente
Nunca mais, de novo, o podeis trazer.