|
Para que vens? Já perdi
Há muito a esperança em ti.
Mais um dia? Passará
Como tudo que eu senti,
Tudo que eu nem tenho já.
Estou cansado de tudo
Para que vens? Dormirei
Em breve gélido e mudo.
Vens dizer que eu passarei
Como tu? Eu já o sei.
Passarei. Nessa tristeza
Um dia embalei a vida.
E nem dela de dolorida
Já a formidável certeza
De passa? mal é sentida.
P'ra que morrer? Conhecer
Inda quis e me cansei.
Nada soube e nada sei.
Não sei para que viver,
Nem sei porque morrerei.
À indiferença da dor
Extrema pois me recolhi.
Menti, não quero o horror
De pensar □
Leva-me cedo p'ra ti.
Mas o inevitável tem
Mais horror que □ tudo
Mesmo que sejas um bem
Muito queria ter um escudo
Contra ti, ignoto além.
□ Espaço deixado em branco pelo autor
15
-
11
-
1908
In Poesia 1902-1917
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
|