Saudades me atormentam cruelmente,
saudades de meu bem passado;
mas sam eu a tantos males condenado
sem razão por que posso ser ausente.

Por amor me vi um tempo já contente,
por amor eu me quis atormentado,
bem é que o meu erro veja tão passado
como com minha dor e mal presente.

Que bem mereceu pois fez tal partida
não vos ver ou não me verdes vós, Senhora,
por que assi pagasse minha vida.

Mas pois minha alma se viu e chora
não queirais que chore a sorte por perdida
ver-vos os meus olhos branda algũa hora.

 

Luís Vaz de Camões
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