No copo de cristal nos reflectimos, nele vejo
o meu sorriso a lamber-te o ventre.
Dentro de ti percorro galerias / dunas
que marulham como praias / alongo-me
por dobras, nervos, veias, toco na fonte
do olhar que se fecha, da respiração
que transporta o lume da pele estremecida,
campos de pasto onde relincham rosas.
A tua beleza entra-me na carne / o amor
abre novas terras / que ave de matinas
canta dentro de nós, nos une margens,
no percorrer da língua, no fio da anca,
no gume da virilha? Em ti, como num búzio,
sorvo a luz mais íntima / No meu corpo
estás, como a forma da água / Poderei
abrigar-te sempre, em dias de chuva,
no silêncio da insónia, quando a solidão
subir ao rosto e alguns versos barrocos
se tiverem escrito para o reboco da ausência.
Traço agora aqui o meu destino / nesse copo
o ergo / bebo no teu sexo o vinho claro /
O pelicano regressa, o seu longo bico
toma a forma de arado / rasga e acaricia
como na língua o sulco do teu nome.