Lembranças de meu bem, doces lembranças,
que tão vivas estais nesta alma minha,
não queirais mais de mi, se os bens que tinha
em poder vedes todos de mudanças.

Ai, cego Amor! Ai, mortas esperanças,
de que eu em outro tempo me mantinha!
Agora deixareis quem vos sustinha,
acabarão com a vida as confianças.

Co a vida acabarão, pois a ventura
me roubou num momento aquela glória
que, quando tão grande é, tão pouco dura.

Oh! se após o prazer fora a memória!
Ao menos, estivera a alma segura
de ganhar-se com ela mais vitória.

Luís Vaz de Camões
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