Cheias de lírios
Tuas mãos estende
Para os meus martírios...
Estende e fica assim
Nem sonho de gesto
Há desde mim
Até tuas mãos,
Para receber
Os teus lírios vãos...
Olhando, só olhando
Até a vida ir
Ficarei, amando
Com o mero ver
Só a ideia, só —
Dos lírios receber...
Fica sem mudança
Assim — P’ra que gestos,
Se mesmo olhar já me cansa?
Como duas figuras
De um baixo-relevo,
Por só-arte puras,
Assim ficaremos
Porque a nossa vida
Dorme sobre os remos...
Mãos sempre estendidas
Eu sempre só olhando
Duas hirtas vidas
Té que nos achemos
Vendo-nos de fora
Mero quadro... Sonhemos...
Sempre à margem de hoje...
Tão inutilmente
A vida nos foge!