Estarei agora pronto a oferecer pequenos pedaços do
meu ser, a entregá-los como se fossem um todo e me
encerrassem, metáfora de pedra.
Neste aproximar da meia-noite vem-me aos lábios um
gosto de amêndoas amargas, uma incisão num passado
recente, o último sabor de um corpo que se prepara para
dormir.
Não é o que parece. É uma história de morte ilustrada
por grandes faces de vidro. O mergulho numa noite que
tomo como se fosse minha, que recebo como um ombro
de mármore.
O que foi arrastado não regressa, O que sobe até mim
é uma haste solitária,, uma sede imóvel marcada por
um gemido de espinhos.
(não uma linha de vértebras que se inclina no limite
do êxtase, uma boca que fecha os olhos para melhor
respirar...)
Gostaria de poder interpretar serenamente, de me orien-
tar na confusão dos sinais. No fundo das pedras perdi
o rosto, a voz, a chave do silêncio.
O passado era crer que a parte me encerrava. Esta
passagem deu-me novos olhos: a cegueira da neve.
Afundo-me nessa ideia inabitável: