Campo, nas Sirtes deste mar da vida,
após naufrágios seus, tábua segura;
claras bonanças em tormenta escura,
habitação da paz, de amor guarida:

a ti fujo; e, se vence tal fugida
(e quem mudou lugar, mudou ventura),
cantemos a vitória; e, na espessura,
triunfe a honra da ambição vencida.

Em flor e em fruto de verão e outono
utilmente murmuram claras águas:
alegre me acha aqui, me deixa o dia.

Amantes rouxinóis rompem-me o sono
que ata o descanso; aqui sepulto mágoas
que já foram sepulcros de alegria.

Luís Vaz de Camões
[CAMPO NAS SIRTES DESTE MAR DA VIDA]
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