Quanto tempo, olhos meus, com tal lamento
vos hei-de ver tão tristes e agravados?
Não bastam meus suspiros inflamados,
que sempre em mi renovam seu tormento?

Não basta consentir meu pensamento
em mágoas, em tristezas e em cuidados,
senão que haveis de andar tão maltratados
que lágrimas tenhais por mantimento?

Não sei porque tomais esta vingança,
mostrando-vos na ausência tão saudosos,
se sabeis quanto pode ũa esperança.

Olhos, não agraveis outros fermosos,
tornando um puro amor em esquivança,
pois ficais, por esquivos, desdenhosos.

Luís Vaz de Camões
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