|
Saber ler na vida — folhear honestamente a vida Apaixonadamente a vida Nas arcas da noite, nas arenas do dia: Risos, lágrimas, serenos rostos aparentes Como se abríssemos cada dia a verde lima do espanto. Não passar folhas em branco sem as entender, Olhar rostos como quem tacteia rugas Descobrindo planetas de mágoa ou rios de alegria. A primeira página e o segredo puro dos acabados de gritar o primeiro grito, Iluminada inocência do futuro. E tudo isto Entre vermes, frutos, flores, rinocerontes, pássaros, Cães fiéis Âguas e pedras E o fraterno fogo que acendemos a cada hora, No espaço branco que é estendermos a nossa mão Para outra mão apertarmos simplesmente Mão pela qual corre o sangue como um rio de fogo. Só temos uns tantos anos para lermos este livro Debaixo do Sol, Ou sob o aço da noite Para este fogo tecer. Chamarás ciência cultura vida dor espada ou espanto a tudo isto Ou ilegível monotonia. Nada. Mas lê.
In Voz Nua
, Livros Horizonte, 1986
|