MOTE

Que vistes, meus olhos?
Meus olhos, que vistes,
que vos vejo tristes?

VOLTAS

Vejo-vos chorosos,
de Amor agravados,
tanto namorados
quanto mais queixosos.
Ora, meus mimosos,
dizei-me: que vistes,
que vos vejo tristes?

Dizei-me, meus olhos:
quem vos agravou?
quem vos trespassou
com duros abrolhos?
Por certo que em molhos
nunca vi, se aí vistes,
lágrimas tão tristes.

Se chorais de amor
suas esperanças,
ditosas lembranças,
mais ditosa dor!
Mas, se é desfavor,
dizei-me o que vistes,
e não sereis tristes.

Porém, se de enganos
viveis enganados,
não queirais cuidados
de quem vêm tais danos.
Deixai passar anos
com o bem que vistes,
e não sereis tristes.

Luís Vaz de Camões
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