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Longe das cinco partes desta terra Na incerta distância onde caminhos Não levam, donde viandante ou □ Jamais, contente, volta, e onde não chega A forma de viver que anima o mundo — Ali, no seu sequestro de alheado Das cousas, filho órfão do silêncio, Sob as árvores largas, nas vertentes De melhores critérios de que os nossos, Passas, Hipérion, a exilada vida. Outra terra era esta quando o teu Carro, de Apolo hoje, contornava Na divina carreira a esfera, e as Horas Tuas escravas eram no horizonte. Hoje, no vão desterro, na amargura Da saudade imensa de ti-próprio Qual foras, passas, entre rios ledos Na leda vida, e a forma do teu corpo Inerte jaz nos vales ou nos prados Irrégia. Dia a dia dos que há hoje O círculo monótono das horas Uma mais triste morte põe em tudo — Não em ti, o imortal, a quem Plutão Jamais terá, nem aos arbítrios dado De Minos ou de Radamanto. As flores Do fresco e obscuro vale onde enlanguesces Não dão grinaldas para os dias teus. A titânica prole abandonada Do que é mais velho do que a Noite e o Caos E abstracto e ausente rege o quente mundo.
[6-11-1916]
In Poesia 1902-1917
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
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