Deixa-me tapar-te o frio com um xaile de Sol Xaile esplendor de uma alegria de oiro Dano que me mandaste um papei de caderno por debaixo da carteira de pinho de mansinho secreta mensagem escrita num vermelho de coração vivo ou com um dedo ferido por um espinho de secreta alegria E um pacto de sangue nos uniu na tinta vermelha no teu saber de criança que a vida ainda não fez desaprender E o papel trazia poeiras de flores asas de borboletas calor de bichinho pequeno na infância amado. Tão menino ainda subiste o trono, os ombros de Sol espalhados Subiste o trono para dizer o segredo inacabado: Eu continuo a escrever com tinta vermelha encarnada na minha alegria que por ti foi dada. E ficaste aqui para sempre a escrever a ternura do recado Ficaste mesmo porque as crianças não sabem partir Eu herdei este tesouro do papel rasgado do caderno E mando um beijo teu a teu Pai a tua Mãe a Melissa Um beijo teu com os lábios vermelhos de ternura aberta Unidos os quatro como rios Num mar sem esquecimento E contudo meu Amigo sei que tens frio e vou tecendo o xaile de Sol Com a alegria que me ensinaste.
In Voz Nua
, Livros Horizonte, 1986
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