A ũas senhoras que haviam de ser terceiras para com ũa dama sua.

Pois a tantas perdições,
Senhoras, quereis dar vida,
ditosa seja a ferida
que tem tais cerurgiões!
Pois ventura
me subiu a tanta altura
que me sejais valedoras,
ditosa seja a tristura
que se cura
por vossos rogos, Senhoras!

Ser minha pena mortal,
já qu' entendeis que é assim,
não quero falar por mim,
que por mim fala meu mal.
Sois fermosas:
haveis de ser piadosas,
por ser tudo dũa cor;
que pois Amor vos fez rosas
milagrosas,
fazei milagres d' amor.

Pedi a quem vós sabeis
que saiba de meu trabalho,
não pelo que eu nisso valho,
mas pelo que vós valeis.
que o valer
de vosso alto merecer,
com lho pedir de giolhos,
fará que em meu padecer
possa ver
o poder que têm seus olhos.

Vossa muita fermosura
co a sua tanto val
que me rio de meu mal
quando cuido em quem mo cura.
A meus ais
peço-vos que lhe valhais,
Damas de Amor tão validas,
que nunca tal dor sintais
que queirais
onde não sejais queridas.
 

Luís Vaz de Camões
[POIS A TANTAS PERDIÇÕES]
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