Fonte, mais pura que o lustroso vidro,
mais que o vivo cristal que as rochas veste,
ó de inocentes míseros amores
outr'ora testemunha;
Com que verso, que iguale o que mereces,
cantarei dignamente as águas tuas,
e a relva que te borda a fresca terra,
e as flores que a matizam?
Em que verso melhor folgas que entoe
digno louvor às árvores anosas
que te cercam benéficas, lançando
amiga sombra aos vates?
Se de outras cordas minha lira ornasse
de Maia o filho, o alígero Mercúrio,
se novos sons em minha voz criassem
as ondas de Aganipe.
Então celebraria os nobres seixos,
onde o sangue de Inês o tempo adora,
onde o sangue de Inês inda hoje arranca
o pranto a Amor e às ninfas.
Os zéfiros e as auras n’ este sítio
sem que os ais da infeliz jamais esqueçam
tristes movendo a trémula folhagem
saudade doce avivam
As águas luas, e as vizinhas letras,
sobre as quais cada dia Amor suspira,
o sangue inda recente, os velhos troncos,
tudo te faz formosa.
Corre, ó Fonte das Lágrimas; ah! sempre
aos ternos corações de amantes tristes
corras grata e suave, e tenhas deles
os cultos que te sagro!