Eu não canto, mas choro e vai chorando
comigo Amor de ter-me assi entregado
em parte tal que nem a ele é dado
valer-me em mais que ir-me consolando.
Vai-me sempre ante os olhos figurando
aquela fermosura em que enlevado
há tanto que ando; e tal me é forçado
ir-me trás ela, em vão, triste e enganando.
Mas não pode sofrer tamanho engano
Amor, que nos conhece e, de tal ver-me,
foge e me deixa só de pura mágoa.
Olho-me então, e vejo o desengano;
afronta a alma cansada e, por valer-me,
desabafo, desfeito em fogo e água.