Fermosos olhos, que cuidado dais
à mesma luz do sol mais clara e pura,
que sua esclarecida fermosura
com tanta glória vossa atrás deixais:

se, por serdes tão belos, desprezais
a fineza de Amor, que vos procura,
pois tanto vedes, vede que não dura
o vosso resplandor quanto cuidais.

Colhei, colhei do tempo fugitivo
e de vossa beleza o doce fruto
que em vão, fora de tempo, é desejado.

E a mi, que por vós mouro e por vós vivo,
fazei pagar a Amor o seu tributo,
contente de por vós lho haver pagado.

Luís Vaz de Camões
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